A Câmara Municipal de Natal debateu na manhã desta terça-feira (29), em audiência pública, como combater o desperdício de alimentos na capital potiguar. Proposta pelo vereador Felipe Alves (MDB), a audiência contou com representantes de bares e restaurantes, supermercados, entidades e órgãos como a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semtas), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Serviço Social do Comércio (Sesc). A vereadora Eleika Bezerra também participou da audiência.
O propositor da audiência explicou que o debate chama a atenção para o problema do desperdício de alimentos e conhecimento de iniciativas que possam ser implementadas. "Nós buscamos ações para conscientizar supermercados, restaurantes, hotéis, de que é preciso aproveitar alimentos que perdem valor comercial, mas que ainda podem ser consumidos. Temos uma lei de nossa autoria que concede o selo “Casa Solidária” para estimular a doação de alimentos, premiando estabelecimentos que tenham essas iniciativas, beneficiando as pessoas mais necessitadas", conta Felipe Alves.
De acordo com o presidente da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel/RN), Artur Fontes, cerca de 10% dos alimentos são desperdiçados nos estabelecimentos porque há barreiras legais que impedem as doações diretas. "Se um alimento doado provocar algum mal a quem recebeu, vai gerar grande transtorno para o estabelecimento, por isso, precisaríamos de uma legislação mais flexível e de projetos que tivessem um banco, que fizesse a triagem e a entrega. Neste sentido, temos interesse em ações de integração com os governos", sugere.
Projetos como o "Mesa Brasil", do Sesc, já realizam esse tipo de trabalho. O diretor regional da entidade no Rio Grande do Norte, Fernando Virgílio, explicou que o programa existe desde 2003 com mais de 300 cadastros com doadores e beneficiários. "Somos referências, recebemos doações de empresas, fazendas e até de apreensões. O Mesa Brasil beneficia 44 mil pessoas por ano aqui. Realizamos todo um planejamento estratégico e ações com o principal objetivo de facilitar a doação e a entrega dos alimentos, por isso nós vamos buscar in loco essas doações e fazemos a distribuição", relata. Até 2019 já foram recolhidas cerca de 20 mil toneladas de alimentos pelo programa.
Já da parte da municipalidade, a Semtas tem um serviço de segurança alimentar e nutricional que trabalha com orientação das famílias e entidades assistidas. Além disso, dispõe de um banco de alimentos que está sendo reestruturado. "O Banco de Alimentos está sendo reestruturado, mas trabalhamos com a política de reeducação alimentar para as pessoas saberem aproveitar melhor os alimentos, com reuniões nas comunidades, programa sopa solidária em que famílias são referenciadas para orientá-las e sensibilizá-las sobre o desperdício e, consequentemente, tendo mais qualidade de vida", explica a secretária adjunta da Semtas, Maria José de Medeiros. Neste sentido, a lei mencionada pelo vereador Felipe Alves, que foi sancionada em 2016, ainda depende de regulamentação.
Texto: Cláudio Oliveira
Fotos: Marcelo Barroso