Dentro das discussões abordadas no "Agosto Lilás", período do ano dedicado ao debate mais intenso em torno da proteção a mulher, a Câmara Municipal de Natal realizou nesta manhã (2) uma audiência pública para discutir o assédio sexual e moral contra as mulheres no ambiente de trabalho. A proposição foi da vereadora Natália Bonavides (PT), em parceria com o Programa de Qualificação do Servidor (Proqualis) da Casa. Na ocasião, foi anunciada a campanha "Aqui é lugar de mulher", iniciativa do mandato da parlamentar.
"Esse é o primeiro debate dentro da temática que todo lugar também é lugar de mulher. O mais grave é que essa situação nos limita. A gente passa a evitar, passa a mudar nosso modo de vestir, de se posicionar, de se comportar e até abandona o trabalho e perde oportunidades. Na próxima semana lançaremos a campanha 'Aqui é lugar de mulher' para incentivar mulheres a combaterem o problema. Cabe a cada uma de nós se autoafirmar e enfrentar tudo isso", destacou a vereadora. Para a audiência de hoje foram convidadas militantes da causa, servidoras da câmara e representantes de órgãos e instituições públicas.
A advogada e militante Lorena Cordeiro relatou experiências de assédio que sofreu e como conseguiu lidar com a situação. Ela também revelou suas conclusões ao analisar essa experiência negativa. "O agressor geralmente age intimidando e reforçando a relação hierárquica. São colocações e olhares constrangedores, elogios e piadas que depois diz que era só brincadeira. A mulher vai se constrangendo e ficando confusa ao ponto de começar a se culpar, achar que é coisa da cabeça dela e que o erro é dela. Porém, falar rompe com essa relação e fortalece outras mulheres que estejam passando ou passaram por isso também. É preciso romper e se firmar colocando para o agressor que ali também é o local dela", constata.
A orientação é que quando a mulher começa a se sentir desconfortável com elogios, palavras, olhares e toques, é um sinal de que algo está errado. "Quando ela tiver se sentindo invadida, constrangida, incomodada já é assedio. Isso é crime e a principal arma é conversar, primeiro com o assediador, e se mostrar desconfortável com a situação. Depois, comunicar ao seu superior e dividir isso com alguma colega de trabalho, mas não ficar calada. O assédio não acontece uma única vez. Quando não se dá um basta, ele é contínuo", orienta a promotora Érica Canuto, do Núcleo de Apoio à Mulher Vítima de Violência Doméstica (NAMVID) do Ministério Público do Rio Grande do Norte.
As consequências para as vítimas do assédio moral e sexual no ambiente de trabalho também foram evidenciadas na audiência. Segundo a socióloga Zenilda da Silva, as marcas geralmente não são físicas. "São consequências de cunho psicológico que abalam a autoestima, causam estresse, indisposição, desconcentração e medo. Quando não se trata chega a problemas maiores como depressão e síndrome do pânico, que incapacitam a profissional porque são transtornos de ordem psíquica e isso é muito sério", explica. A mulher que sentir esses sintomas deve procurar uma unidade de saúde para ser encaminhada ao serviço psicológico. Na Câmara Municipal, a vereadora Natália Bonavides vai propor junto com o Proqualis e à Frente Parlamentar da Mulher um plano institucional para combater e orientar sobre assédio no ambiente de trabalho, com a formação de uma comissão que possa receber possíveis denúncias das servidoras.
Texto: Cláudio Oliveira
Fotos: Marcelo Barroso
Assista a audiência pelo canal da TV Câmara: https://www.youtube.com/watch?v=BFKBLv-SDUk