A Câmara Municipal de Natal realizou uma audiência pública para analisar a realidade dos hospitais universitários federais instalados na capital potiguar. A discussão foi uma iniciativa do vereador Sandro Pimentel (PSOL).
Um dos grandes fatores que motivaram a audiência foi a finalidade dos hospitais universitários para o desenvolvimento de tecnologia para a área de saúde e a formação de estudantes para atuarem na área, diante das dificuldades com falta de recursos humanos e em meio à gestão realizada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), desde 2011. Em. Em Natal, há o Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) e o Hospital Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC).
O vereador Sandro Pimentel explicou que a mudança de gestão para uma empresa pública prejudicou as relações interpessoais entre os funcionários e motivou casos de assédio moral por resultados. Ele argumentou que esse cenário tem aumentado o surgimento de casos de doenças. Em apenas 20 dias de trabalho foram apresentados de 500 dias de atestados, números esses somados.
"Os hospitais universitários sempre foram hospitais que tratam do ensino pesquisa e extensão. São nesses hospitais que se formam todos os profissionais da saúde. Após os governos Dilma e Lula, passou-se a gestão para essa empresa pública e muitos problemas chegaram. Claro que, com o aumento de recursos, os números estatísticos aumentaram. Mas isso também aumentaram os problema, em especial as relações interpessoais, muito assédio moral, muita pressão por números e resultados. Por isso temos esse grande número de atestados. É muita gente doente. Pode-se dizer que são doentes cuidando de doentes", disse.
O coordenador-geral do Sindicato Estadual dos Trabalhadores em Educação do Ensino Superior (Sintest), João Maria dos Santos, contou que o atual modelo de gestão têm prejudicado o ensino, pesquisa e extensão e ainda provocado o surgimento de casos de assédio moral com três de modelos de contratação existentes: servidores federais concursados estatutários, funcionários públicos contratados celetistas e os funcionários terceirizados.
"A gestão hoje é da Ebserh. Então o interesse dela é privatista. Os interesses da nossa universidade, que são o ensino, pesquisa e extensão, não estão sendo colocados em primeiro plano. Desde que foi criada tem metas com produtividade, o que conflita com os interesses da instituição. Como se mede como você ensina uma pessoa? Não dá pra quantificar isso. Fora as diferenças que são inerentes ao ensino. Se eu sou um técnico de enfermagem, para fazer um procedimento eu gasto uma quantidade de material e um determinado tempo. Mas se eu vou fazer esse mesmo procedimento ensinando um aluno eu vou gastar mais material e mais tempo. Isso se reflete em cobrança sobre o trabalhador. A gestão da Ebserh é conflitante com os princípios que norteiam um um hospital universitário", disse.
O Sintest defende que as gestões dos hospitais voltem para as universidades focados para o ensino, pesquisa e extensão. Em 2011, com a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, as gestões passaram a ser da empresa pública.
O pró-reitor de Planejamento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), João Emanoel Evangelista, contudo, foi enfático ao dizer que não há crise. De acordo com ele, a instituição de ensino tem observado um crescimento na qualidade do ensino e no número de atendimentos prestados à população desde a formalização do contrato com a Ebserh. Antes as contratações ficavam a cargo da Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec).
"Os hospitais continuam sendo unidades auxiliares das nossas universidades. Apenas a gestão é da Ebserh. Antes da Ebserh os hospitais viviam precariamente porque não tinham profissionais suficientes para o funcionamento. Um hospital universitário é fundamentalmente uma unidade de ensino, pesquisa e extensão. Nossa principal preocupação era que não houvesse retrocesso. Hoje, temos a segurança de que, com a Ebserh, houve avanços importantes para os nossos alunos. Para a UFRN, não vemos crise nos hospitais universitários", frisou.
Texto: Marcius Valerius
Fotos: Verônica Macedo